quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Relação: força



Áspero, sem acabamento, de pedra, com pé de anjo entre os dentes, gritando versos de um apocalipse fiel ao laço de fita vermelha que se entrelaçava e enfeitava os fios de cabelo de uma criança loira, de olhos azuis, que posava nua para seu irmão mais velho que ao mesmo tempo deixava-se por salivar enquanto imaginaria aquela pele calma, lisa e branquinha esfumaçando seu olhar. Ao seu lado esquerdo, um ninho de pássaros conseguia o incomodar com o piar de cada pássaro que saia de ovos que seriam facilmente esmagados a fim de deixar explodir a doce raiva que pingava da testa em gosta de suor acompanhado por uma longa faca branca que surgiria - sem querer - em uma das mãos e - sem querer - se deixaria por enfrentar a carne fraterna de mal-me-quer amaldiçoado por Deus, aquele que fica nu diante da discórdia e cria filhos Anencéfalos como retribuição e gratidão à milhares de almas engarrafadas que se fingem de fartura e redenção aos restos de agonia e boca que balbucia o soletrar da boa valsa, enquanto dois meninos apontam armas um contra o outro e uma mãe chora calada diante do corpo que nem seu é.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Tendo pouco

A palma lisa da tua mão na minha nuca, os lábios crespos enrolados no meu peito, a superfície curva curvando-se diante do meu desejo, o lançar de um escuro perfume maldito, a doce violência colorida que desbota em mal-me-quer. Contra a parede. O laço solto e leve e meu, seu dançar desengonçado, todo o suor do teu corpo . Quieta, és só (minha).

terça-feira, 3 de julho de 2012

chifres ao santo

De asas de dragão e braços de minotauros não posso esperar tanta compaixão. Terreno morto e seco que eu toco com minhas patas agora treme como porco espinho a espinhar. Gota por gota, suco por suco e não posso voltar a forma tão fiel de deus. Ora, quanta gente faminta. Babavam por tripas. O senhor é teu escravo e ele você matará.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

macio

Feito pedra parada, beija-flor beijoqueiro, laranja sem casca, folha pautada, cigarro amassado, garrafa vazia, diamante barato, ponte quebrada, água molhada, óculos sem lente, estante amarela, porta aberta, noiva sem véu, morte sorrindo, beijo molhado, coração decepado.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

não gerar pó


E hoje (resolveram) te deixar nua na minha frente. Fez muito frio e choveu tanto, mas ainda assim (preferiram) te deixar nua - diante - dos - meus - olhos - frios - e – frágeis – e - mudos. (Fizeram) você engolir peçonha e te vi espasmar corredor a fora em cima de uma maca branca de ferro que fere e que range as rodas num tom preto de não me deixe aqui. (Amarraram-me) em uma cadeira elétrica e me fiz imundo e sujo e pouco e filho a chorar tua ida.

- Ela é mulher e como mulher não fez agrado ao chão de homem que pisou.
Queremos apenas o útero. gritavam.

E eu te entreguei a eles, eu te vendi por três dúzias de corações negros. E ELES te querem tanto, querem ali, jogada aos espinhos, com os olhos furados, sem palpitar - nua. sedenta – pálida – velha – epilética – sem amor – nojenta – trêmula – meu bem. Tua burrice me excita.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

de te ter


é porque quando chega a noite eu resolvo me descontrolar um pouco mais ao ponto de querer sair correndo e te amar de amarelo de amor e te jogar nas nuvens pra dançar. 

carrega-me contigo agora, por favor. 

o meu (seu) coração parou.



quer feto quer não

Do parto de Rita saiu tripa de feto que não deu certo, de bixo amaldiçoado sem amor, de vidro verde escuro quebrado, de patas de galinhas congelada.

do meu anti-anti


o que pulsa podre e pulsa forte e pulsa pulsa dentro de mim não é de deus, nem de ti. 

é vermelho arde sangra queima quebra pode e quer poder sempre. 
e da minha medula não irás ter nem uma gota de satisfação e da minha pele nem um rastro de suor e dos meus olhos nem um rastro de anti-lágrima - anti-eu. 





-então vem, rasga aqui, acaba.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

súplica ao pão de carne



Você chegou ao seu ponto extremo, meu bem. 

Tuas feridas já estão expostas demais e sua cabeça está aberta, não preciso enxergar teus miolos tão de perto. (Ou você mata ou você se mata) Não tens a vaidade de uma mulher nem a coragem de um homem, ou você faz sofrer ou você sofre. Teu corpo não te agrada e ninguém te olha sem pena, sem medo, sem nojo nojo nojo.

és um pedaço de carne qualquer, podre. 

Teu amor - eu digo teu porque é só teu, é sozinho e é solícito - quase some diante dessa pobreza pobre e imunda que marca o chão que tu pisa. Essa carcaça desesperada e inconstante vai desmoronar e mais enxofre e mais enxofre e mais enxofre e mais enxofre vai surgir diante de ti. Ninguém fará absolutamente nada. Irão gargalhar de suas vestes até o ponto de se incomodar com tamanha deselegância e inutilidade de um só espírito. Daí cansam de ti e mandam pro inferno.

De resto é só fogo.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O meu coração é teu, eu já te disse isso.

sábado, 9 de junho de 2012

faz mal


O pingo pinga e tem gente que ainda se incomoda com toda essa minha lucidez de olhos arregalados, prestes a saltar de um prédio de trinta e nove andares, descalço, de braços entregues abertos, como quem sabe o que está fazendo e tende permitir que a sobriedade seja desalgemada e colocada em cima do castelo - castelo amarelo, passado, batido, amassado, de ouro maciço e coberto de neve que gela as pontas dos dedos e a ponta do nariz e quase nunca esvazia todo o pesar de oitenta e três anos de uma vida qualquer.

dá-me luz


Ordenaram que tudo que realmente fosse cor virasse pecado. O singelo rosa logo se apavorou e deixou por se desmanchar em tom de querer por cima do doce e macio verde assustado. Pecavam sem saber, sem ser mais cor(pos). Quase uma aquarela sem escrúpulos, um arco-íris violado, um (olhar) vermelho, um pedaço de ti.

és e não és

Veja o nosso estar com este outro par de olhos que está embrulhado com papel de amor, aí do lado da cama. Regue as plantas que costumam comer a nossa carne com um pouco daquelas lágrimas que colhemos ontem em nosso jardim. Cuide bem das crianças e lembre-se de varrer bem o chão, logo chegarei. Estenda um lençol laranja por cima da mesa e me atenda com paixão clara.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

não recebo nem o mais podre dos beijos


E hoje eu não posso permitir que eu fique de olhos abertos esperando algum resmungo seu. De manto vermelho e flores sem pétalas deito-me no chão de gelo, na segunda opção de um homem só. Não há virilidade, força, vigor, muito menos vontade. Desejo que fique longe, que não arraste seus trapos com perfume usado pra tão perto. E se quiser me tocar, mate-me antes.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

fuck me

não posso mais ficar aqui, eu quero mudar de mundo.

sábado, 26 de maio de 2012

não

eu hesito
tu hesitas

eu me perco
tu me foges 

e quando penso que tenho teus cabelos na mão, 
sua boca encosta uma última vez na minha 
e me foge e me deixa e me cala.

eu hesito

tanto faz

Sete doses sem cor alguma e uma pitada de vermelho que sofre de solidão por ser apenas mais um vermelho me limparam o pedaço cheio que pulsa. Ou que pulsava. Nem de dor alheia, nem de faca no peito. Falta muito e falta tanto e só falta. Mas também transborda em onda cinza melancólico que me confunde os traços teus. 

A fuga que treme em retalhos amarrados, com fita e laço materno, um aborto. 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

mas, dizei uma só palavra e (não) serei salvo

Ele que era o cordeiro de deus e dizia que iria tirar o pecado do mundo, agora segue acorrentado dentro de um sepulcro, ainda vivo.

domingo, 13 de maio de 2012

fora de contato


A flor debruçada na janela agora murcha e se coloca a disposição de corpos alheios. O olho fundo de engano, a boca de cerâmica rachada, a pele áspera de tristeza e cabelos de óleo de desgosto. Só não a toquem, ela morde e mata. 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

quem sabe vire vício

suas duas pernas, seus cabelos, seu perfume, minha mão deslizando, sua boca com a minha, seu quadril desenrolado, seus olhos quase fechados, sua respiração, suas curvas, minha boca, seus suspiros, sua sombra, meus olhos, quase você. 

ouro dezesete amores quilates


No meu último encontro com Maria pude notar sua pele um pouco mais pálida do que o comum, seus traços mais marcados, sua boca menos viva e sua olheira um pouco mais funda e escura do que o normal. As olheiras me chamavam bastante a atenção - eu gostava delas. Estava mais magra, tinha cortado os cabelos e tinha um esparadrapo enrolado em seu dedo indicador esquerdo. Falou-me sobre as borboletas e também me abraçou.


 
          maria chorava

Sofria de algum desamor e não queria continuar assim.

          maria era insuportável

Eu não entendia porque ela sempre me escolhia como uma pessoa em que ela pudesse falar sobre borboletas e abraçar: eu tinha (tenho) sede por ela e se pudesse, eu tomaria gota por gota de seu encanto, eu a amarraria junto a uma árvore e a beijaria, mesmo que ela não quisesse (maria teria de querer). ela sabia falar e sabia e entendia o que EU queria falar, mas preferia fingir que não me compreendia ou que não sabia de coisa alguma, mas maria sabia, sabia da minha fome pelo seu corpo (antes só corpo).

          maria não queria

me perdi em seus rodeios e acabei por me perder em minha força. talvez eu tenha  abraçado-a forte demais e tenha enfiado uma faca em seu coração. pude até me divertir diante da cor vermelha que saía do peito de maria, mas eu também chorava (e ria), eu também não queria aquilo. Mas, francamente, maria poderia ter sido um pouco mais legal e honesta com suas palavras e sentimentos. a culpa foi dela, eu apenas a abracei e chorei.
 
        maria?

domingo, 22 de abril de 2012

a desconfiguração do corpo nu diante do espelho: o homem não quer mais.




ele grita bem alto e grita bem forte e grita para ser ouvido
e é ouvido pelo seu próprio reflexo,
pela sua fraqueza constante
e pelo seu desastre em pedaços.


o triste homem abre uma terceira ferida

quinta-feira, 19 de abril de 2012

i don't want to be

Vou negar até que você se ajoelhe e se arraste pelo chão áspero, fazendo com que saia sangue de suas feridas e que você grite pedindo para que você mesmo pare. Daí você vai se encontrar em um embate onde você estará contra você mesmo e vai implorar para que eu te mate. Novamente negarei e nem sequer irei encostar um de meus dedos em sua pele. Seu corpo vai pedir o meu e não vai ter. Em algum momento eu vou embora, seu sangue ficará pelo chão e seu choro irá se tornar a cantiga de ninar do filho do fogo. Você se encontrará em um mar de infelicidade, de negação, de dor - sem meu corpo, sem meus beijos,  sem mim.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Para o ódio

é demais. O amor é demais. O não querer é constante e o querer desdobrado em três não existe.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

o batom de rita é feito de sangue


Rita lambe suas crias, uma por uma, todos os dias. Rita possui vontades e quando quer, Rita arranca a cabeça de uma das crias, sem querer. Rita tem fome, mas tem que dar o que comer para mais sete (ou rita come ou rita é comida). E Rita não quer mais se colocar a disposição diante de tantos olhos comedores. Rita está cansada e Rita também tem sede. Rita não sorri faz anos e Rita chora sempre.
Rita quer respirar.

domingo, 1 de abril de 2012

queda

e acaba o dia da mentira e um avião cai na sibéria e um coração explode na esquina.

- são (só) corpos queimados.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Flor, ouça-me bem.


Teus olhos calmos de paixão fazem meu corpo desabrochar.
Estico-me de pétala em pétala, enraízo essa minha vontade
e esse meu (louco e tanto) querer só para poder (sempre)
te falar e te ouvir. Teus poucos suspiros inquietos me
invadem e só me fazem querer estar aqui ao teu lado -
nesses pequenos instantes.

Flor, ouça-me bem, eu estou aqui,

sempre.

domingo, 25 de março de 2012

talvez aquela moça implore razão, insista (em) saber




aquele sorriso incompleto em meio aquela multidão de pessoas me arrancou uma pequena abertura entre os lábios e uma mão tremendo daqui e a outra querendo de lá. um abraço aconchegante e a vontade de ter quando quiser, de poder tocar.

- tenho que ir.

mas porque a pressa, porque não continua a esbanjar essa maciez e calma aqui perto..

olhos de pequena, tão cedo, tão flor.

sábado, 24 de março de 2012

m(eu)


em dias em que a minha inutilidade insiste se fazer presente, eu prefiro adormecer antes que o espelho se quebre ao chão
e prefiro fingir que eu não existo
e que não faço parte dessa arte
pouca.

face contra face,
impasse.

terça-feira, 20 de março de 2012

páginas estupradas


Paletó amarelo, cinto alaranjado, botas de vermelho vermelho,
chapéu verde água de março, lenço azul no pescoço,
perfume doce tonto e gravata borboleta cor de lilás primavera.
Postura ereta e a contagem dos passos se dava de três em três,
preferia composições ímpares.
Dentes bem brancos e lábios de carne vermelha de homem
que gosta de homem.
Desceu as escadas, parou no trigésimo terceiro passo,
abriu a porta, abriu um sorriso, abriu o coração, coração de carne,
de homem, de vermelho, de paixão, de tentativa de homem.

Calça jeans escura, tênis baixo claro, blazer azul marinho (sem peixes),
cheiro de chão e de cão e homem, um cachecol amarelo e um meio
sorriso de amor.
Gostava de pares, queria ser o um para poder ter o outro,
tinha pressa, tinha carne, tinha necessidade de toque.

Fechou a porta e em tempos e contratempos iniciava-se uma dança.

(Lábios verdes de primavera que gostam de homem no trigésimo
terceiro sorriso, paixão que tenta e que cai pela escada no chão.
Abre agora a minha carne e inicia esse vermelho de borboleta
que passa escuro ao meu lado. Minha doçura está escondida
detrás da porta, sem pressa, de homem, com homem.)

- perda de contato


quinta-feira, 15 de março de 2012

brincando de astronauta


amarelo acinzentado para os pobres
azul quente esverdeado para os cães
rosa levemente rosa para as damas
preto esbranquiçado para os poucos
vermelho perolado para os tais
arco-íris enfraquecido para os outros

e o singelo e transparente amor para você

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

prazer a dois

sorvete de morango, com pedaços de morangos
com artificialidade de morango,
de morango, com morangos,
em forma de morango e em mente de morangos frescos.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

porque metade de mim é platéia


Teu sorriso em arco-íris com gosto de picolé de tangerina bateu hoje cedo na minha porta. Não houve troca de olhares, nem a constante falta de respeito. Quem me telefonou ontem foi a senhora sua falta de ar, disse-me que você anda meio confusa, que quase não fala mais. Ainda consigo ouvir o som do piano e lembrar dos nossos corpos contagiados. As amoreiras andam tão bonitas por aqui, você deveria estar aqui ouvindo o que elas dizem.

-volta logo.

luvas aos pés


Daí o lençol sempre acabava voando comigo pela casa. Sempre tive um cuidado muito grande para não esquecer do tempo e acabar dormindo no teto, sem querer. Minhas luvas de borracha cor de laranja (de laranja) assustavam qualquer tipo de inseto que pensava em voar ao meu lado. Então eu ligava o chuveiro, deixava a água bem quente, saía correndo e me jogava pela sacada. Eu nunca morri, eu sempre voava, voava feito um menino de lençol com luvas laranjas, laranjas.

sábado, 14 de janeiro de 2012

mensagem de necessidade aos deuses


digo a quem quiser ouvir:
dos meus vícios cuido eu.

essa pele que eu tenho tão perto dos meus olhos deixa as minhas mãos calejadas, imóveis.
não consigo pegar e dizer que quero que me tenha,
que quero que me acabe,
que quero que me mate.

Outras vozes permitem que eu abra a janela e me jogue, mas e o portão do bosque, ainda está aberto?

Queria um último buquê de margaridas, uma última rosa de hiroshima, uma tulipa lilás e um vaso de violetas amarelas. Uma xícara de café não me faria tão mal, melhor ainda se viesse acompanhada de uma dúzia de barras de chocolate com castanha e três trufas de maracujá. Não se esqueça da minha dose de vodca polonesa, dos meus sapatos turcos, da minha luva francesa, dos meus óculos ingleses e da grama verde de Amsterdã.

Peça emprestada as vestes do Papa, a coroa de espinhos de Jesus e as cinzas de vítimas do holocausto. Traga incensos de maçã verde, pratos gregos, mulheres portuguesas e homens italianos.

Exijo que todos os corpos permaneçam nus, em contato extremo, como se o amanhã tivesse sido apagado.

Alugue o Palácio de Versalhes e providencie uma corda amarrada no vão central. Violinos e harpas envenenadas serão tocadas pelos meus melhores amigos e quero que todos estejam vestidos com saias brancas.

Ao meu sinal,
gostaria de uma salva de palmas durante três anos consecutivos
e depois
e depois
e depois
queime o meu corpo e apague a minha história.

- Não me perturbe com falsas suposições de que algo possa dar errado e de que coisas simples como essas não possam ser adquiridas. Eu preciso e Eu mereço.


o anel que tu me deste

Não quero mais e já não mais queria faz tempo. Levei em consideração tudo que ela me dissera até então, mas eu já não mais sentia, não mais queria.